Fui ao supermercado com a minha amásia recentemente e tive a oportunidade de descobrir que as diferenças entre o gênero masculino e feminino vão muito além do velho conceito de peloca e pepeca, lúdica referência que os nossos pais diziam a respeito dos órgãos genitais do ser humano.

Em meio de códigos de barra, carrinhos de compra e aquela gente mal educada, encontramos um casal amigo nosso que não víamos há algum tempo. A sudação foi a de praxe e as velhas perguntas também.

As mulheres, nessas ocasiões, criam uma espécie de campo de força invisível, ficando isoladas em um interminável bate-papo e com um dialeto especifício::

“- Querida, quanto tempo! Você está tão linda, o que você fez? Já sei, o seu cabelo está totalmente diferente com esse novo corte. Quem fez essa maravilha? Só pode ter sido o super Marivaldo!”

A outra responde:

“- Pois é querida, foi ele mesmo. Ele é o mago dos cabelos. E você, não mudou muito, não é?”.

A réplica:

“- Não mudei mesmo, continuo com o rostinho dos 18. Mas, acho que vou querer o endereço do Marivaldo, porque gostei muito do seu corte e vou querer fazer no meu também!”

Enquanto isso, o macharal enceta o velho e reservado diálogo de arquibancada de futebol.

“- Fala, fela da puta! Que cabelinho de viado é esse, heim?”

“- É o mesmo que a sua irmã gostava, seu corno! Por falar em irmã, onde anda a gostosa da sua irmãzinha? Uhuhuh.....”

“- Casou com um baitolinha! Mas ele é menos baitola que você, que ainda não passou o rodo naquela sua secretária gostosa!”

“- É, você sabe, onde se ganha o pão, não se come a carne. Mas estou me guardando para baixar o fogo da sua irmã!”

A conversa paralela se estendeu durante um longo período, até que um comprador transeunte, observando o congestionamento que se formava, intrometeu-se na conversa e levantou um antigo mote:

“- Quer conversar? Vai no Balaio!”

Todos entenderam que estava na hora de dispersar e foi o que aconteceu.

Após as compras, quando já estávamos dentro do carro e em direção de casa, a minha amásia fez o seguinte comentário:

“- Aquele cabelo da Wanda está parecendo um buquê de pentelho! Nossa, que horrível! Hum, imagine se eu iria cortar o meu cabelo naquele afrescalhado do Marivaldo! Jamais!”

Naquele momento fiquei chocado com a rudez daquelas palavras, pois eu estava justamente pensando na conversa que tive com o Jorge, namorado da Wanda. Eu estava imaginando o quanto o cara era gente fina e que, apesar da escrotagem filosófica recíproca, éramos grandes amigos.

Já a minha amásia, que depois de um tempo se tornou ex, me ensinou o quanto a falsidade pode ser elegante, fazendo com que um elogio seja ao mesmo tempo um escárnio, como se o sinônimo de “querida” fosse “filha da puta”. Portanto, quando uma mulher encontrar outra e disser:

“- Querida, como você está?”

Entenda:

“- Filha da puta, vá se ferrar!”

Vai-se lá entender...

por Daniel ElPapa

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